29/08/2016

Em cartaz

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Há uma exposição muito interessante em cartaz no Rio de Janeiro, no Paço Imperial, até este fim de semana. Chama-se A Emergência do Contemporâneo: Vanguarda no Japão – 1950-1970. Ela trata do período pós-guerra em que as várias artes emergiram naquele país com um incrível potencial de enfrentamento e provocação.
É interessante como a história do século passado pode ser contada, por um lado, como uma história de guerras e conflitos pelo poder e, por outro, como uma escalada do espírito humano no rumo da aceitação da liberdade extremada. 
As artes japonesas no século passado, enraizadas nas gravuras eróticas desde o século 17, floresceram desde a década de 1930 num estilo que converge muito confortavelmente com a cultura pop ocidental – não é à toa o fenômeno da invasão dos mangás e animes. É peculiar que, ao mesmo tempo em que o Japão se militarizava e preparava para a guerra, a cultura de massa dos ero guro nansensu (erótico grotesco nonsense) já florescesse, num processo que não só não foi tolhido pela derrota na guerra, como foi reforçado.

E é aí que chegamos ao assunto Olimpíadas. As Olimpíadas de 1964, em Tóquio, eram encaradas pelo governo japonês como um passo essencial no posicionamento internacional do país – com toda a dose de higienização que isso traz (um assunto que nos é muito familiar). Acontece que, em 1964, o rápido desenvolvimento econômico e urbano, combinado com uma ruptura de valores no pós-guerra, havia transformado Tóquio em uma cidade coberta de lixo. Ruas e rios eram usadas livremente como lixeira.
E o governo decide então fazer uma campanha de disciplina, em que 2 milhões de cidadãos são envolvidos em atividades de varrição e limpeza. Um dos grupos de intervenção à época, o Hi-Red Center, ironizou a campanha em uma performance em que limpava calçadas com escovinhas, com máscaras cirúrgicas. As próximas Olimpíadas, de 2020, serão novamente em Tóquio.
É curioso que, por uma dessas sortes irônicas, o enfoque mais inquieto de Erber tenha virado exposição “olímpica”. No Paço Imperial, ela acaba dialogando muito mais com uma outra mostra fotográfica, do Instituto Moreira Salles, que trata da demolição do Morro do Castelo e a gentrificação da zona central da cidade na década de 1920, do que com outra iniciativa Brasil-Japão, a morna, institucional, bem-intencionada e pueril mostra binacional Turn – Tokyo 2020.
Se bem que, com a disposição para a bizarria típica dos japoneses, o cosplay do primeiro ministro japonês Shinzo Abe, vestido de Super Mario no encerramento da Rio 2016, joga de novo a coisa para o território do imponderável.

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