14/09/2009

CASO JURíDICO LUSITANO (VERDADEIRO)




Abaixo vai a explicação de um operário português, acidentado no
trabalho, à  sua cia. seguradora, que teria estranhado tantas
fraturas num mesmo  acidente.  Chamo a atenção para o fato de que
se trata de um caso verídico, cuja  transcrição abaixo foi obtida
através de cópia documental dos arquivos da cia. seguradora
envolvida.

(O caso foi julgado no Tribunal da Comarca de Cascais - Portugal)

Ao
TRIBUNAL JUDICIAL DA COMARCA DE CASCAIS

Exmos. Senhores:

Em resposta ao seu gentil pedido de informações adicionais,
esclareço:
No quesito 3 da comunicação do sinistro mencionei "tentando fazer o
trabalho sozinho" como causa do meu acidente. Em  vossa carta V.Sas.
me pedem uma explicação mais pormenorizada, pelo que  espero que
sejam suficientes os seguintes detalhes:
Sou assentador de tijolos e, no dia do acidente, estava a trabalhar
sozinho no telhado de um prédio de 6 (seis)  andares. Ao terminar
meu trabalho, verifiquei que haviam sobrado 250 kg de tijolos. Em vez
de os levar à mão para baixo (o que seria uma asneira), decidi, num
acesso de inteligência, colocá-los dentro de um barril, e, com a
ajuda de uma roldana, a qual felizmente estava fixada em um dos lados
do edifício (mais precisamente no sexto andar), descê-lo até o
térreo. Desci ao térreo e atei o barril com uma corda e subi para o
sexto andar de onde puxei o dito cujo para cima, colocando os tijolos
no seu interior. Retornei em seguida para o térreo, desatei a corda e
segurei-a com força para que os tijolos (250 kg) descessem lentamente
(denotar que no quesito 11 informei que meu peso oscila em torno de 80
kg.). Surpreendentemente, porém, senti-me violentamente alçado do
chão e, perdendo minha característica presença de espírito,
esqueci-me de largar a corda. Acho desnecessário dizer que fui içado
do chão a grande velocidade. Nas proximidades do terceiro andar, dei
de cara com o barril que vinha a descer.

Ficam pois explicadas as fraturas do crânio e das clavículas.

Continuei a subir a uma velocidade um pouco menor, somente parando
quando os meus dedos ficaram entalados na roldana. Felizmente, nesse
momento já recuperara minha presença de espírito e consegui, apesar
das fortes dores, agarrar a corda. Simultaneamente, no entanto, o
barril com os tijolos caiu ao chão, o que partiu seu fundo. Sem os
tijolos, o barril pesava aproximadamente 25 kg (novamente refiro-me ao
meu peso indicado no quesito 11). Como podem imaginar comecei a cair vertiginosamente agarrado à corda, sendo que, próximo ao terceiro
andar quem encontrei? O barril, que vinha a subir.
 
Ficam pois explicadas as fraturas dos tornozelos, e as lacerações
das pernas.

Felizmente, com a redução da velocidade de minha descida, veio
minimizar meus sofrimentos quando cai em cima dos tijolos embaixo,
pois, felizmente só fraturei três vértebras. Lamento, no entanto,
informar ainda que, ainda houve agravamento do sinistro, pois quando
me encontrava caído sobre os tijolos, incapacitado de me levantar, e
vendo o barril acima de mim, perdi novamente minha decantada
presença de espírito, larguei a corda. O barril, que pesava  mais
do que a corda, desceu e caiu em cima de mim, partindo-me as pernas.
Espero ter fornecido as informações complementares, que me haviam
sido solicitadas. Esclareço outrossim que este relatório foi escrito
por minha enfermeira, pois os meus dedos ainda guardam a forma da
roldana.
Atenciosamente,

Manoel Rodrigues

Nenhum comentário:

Postar um comentário