19/11/2009

QUE TAL UM PASSEIO SOCRÁTICO!?

Ao viajar pelo Oriente, mantive contatos com
monges do Tibete, da Mongólia, do Japão
e da China. Eram omens serenos, comedidos, recolhidos e em paz nos seus mantos cor de açafrão. Outro dia, eu observava o movimento o aeroporto de São Paulo: a sala de espera cheia de executivos com telefones celulares, preocupados, ansiosos,
geralmente comendo mais do que deviam.
Com certeza, já haviam tomado café da manhã em casa, mas como a companhia aérea oferecia um outro café, todos comiam vorazmente.
Aquilo me fez refletir: 'Qual dos dois modelos produz
felicidade?'
Estamos construindo super-homens e supermulheres, totalmente equipados, mas emocionalmente 
infantilizados.
A palavra hoje é 'entretenimento' ; domingo, então, é o dia nacional da imbecilização coletiva. Imbecil o apresentador, imbecil quem vai lá e se apresenta no palco, imbecil quem perde a tarde diante da
tela. Como a publicidade não consegue vender felicidade,  passa a ilusão de que felicidade é o resultado da soma de prazeres: 'Se tomar este refrigerante, vestir este  tênis,­ usar esta camisa, comprar este carro, você chega lá!'
O problema é que, em geral, não se chega! Quem
cede desenvolve de tal maneira o desejo, que acaba­
precisando de um analista. Ou de remédios. Quem resiste, aumenta a neurose.
O grande desafio é começar a ver o quanto
é bom ser livre de todo esse condicionamento globalizante, neoliberal, consumista. Assim, pode-se viver melhor. Aliás, para uma boa saúde mental três requisitos são indispensáveis:
amizades, auto-estima, ausência de stresse.
Há uma lógica religiosa no consumismo
pós-moderno. Na Idade Média, as cidades adquiriam status construindo uma catedral; hoje, no Brasil, constrói-se um shopping center. É curioso: a maioria dos shopping centers tem linhas arquitetônicas de catedrais estilizadas; neles não se pode ir de qualquer maneira, é preciso vestir roupa de missa de domingos. E ali dentro sente-se uma sensação paradisíaca:
não há mendigos, crianças de rua, sujeira pelas calçadas...
Entra-se naqueles claustros ao som do
gregoriano pós-moderno, aquela musiquinha de esperar dentista. Observam-se os vários nichos, todas aquelas capelas com os veneráveis objetos de consumo, acolitados por belas sacerdotisas. Quem pode comprar à vista,  sente-se no reino dos céus. Se deve passar cheque pré-datado, pagar a crédito, entrar no cheque especial, sente-se no purgatório. Mas se não pode comprar, certamente vai se sentir no inferno... Felizmente, terminam todos na eucaristia pós-moderna, irmanados na mesma mesa,
com o mesmo suco e o mesmo hambúrguer do Mc
Donald's...
Costumo advertir os balconistas que me
cercam à porta das lojas: 'Estou apenas fazendo um
passeio socrático.' Diante de seus olhares espantados,
explico: 'Sócrates, filósofo grego, também gostava
de descansar a cabeça percorrendo o centro comercial de Atenas. Qu vendedores como vocês o assediavam, ele respondia:
"Estou apenas observando quanta coisa existe de que
não preciso para ser feliz !"

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