Quando duas pessoas saem para jantar, é inevitável: um deles põe o celular - às vezes dois - em cima da mesa. O outro só tem uma solução: engolir, mesmo sem água, um tranquilizante tarja preta.
No meio de uma conversa palpitante, o telefone toca, e a pessoa faz um gesto de "é só um minuto". Não é, claro. Vira um grande bate-papo, e não existe solidão maior do que estar ao lado de alguém que te larga - abandona, a bem dizer - para conversar com outra pessoa. No meio de um deserto, inteiramente sós, estamos acompanhados por nossos pensamentos. Com alguém ao lado falando num celular, lendo os e-mails ou checando as mensagens, não se pode nem ao menos pensar. É a solidão total, pois nem se está só nem se está acompanhado. Tão trágico quanto, é estar falando com alguém que tem um telefone com duas linhas; no meio do maior papo, ele diz "aguenta aí que vou atender a outra linha" e frequentemente volta e diz "te ligo já" - e aí você não pode usar seu próprio telefone, já que ele vai ligar já (e às vezes não liga). Não dá.
Raros são os que atendem e dizem "estou com uma amiga, depois te ligo" - nem precisavam atender, já que o número de quem chama aparece no visor, e as pessoas têm todos eles de cor na cabeça, como, eu não sei.
É um castigo...
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