Representantes da terceira, quarta e quinta gerações numa das salas do palacete em Santa Teresa (da esq. para a dir.): Astrid, que tem o mesmo nome da avó e de uma tia, Octávio Francisco, Arnon Affonso, Ana Maria, Joaquim Álvaro, Sérgio Francisco,Maria, Olavo e Lilibeth
A cada três meses, a vasta mansão em estilo eclético pertencente aos Monteiro de Carvalho abriga uma reunião que junta três gerações da família. Ao contrário das festas trepidantes que costumam agitar de tempos em tempos o velho casarão encravado em um terreno de 100 000 metros quadrados em Santa Teresa, tais eventos são marcados pela circunspecção. Nessas ocasiões, o clã discute os últimos detalhes de um documento diferente: um código de conduta. Trata-se de uma espécie de constituição interna com regras de convivência para os seus 69 integrantes. Já em fase final de elaboração, o texto estabelece um conjunto de normas que vão desde a realização de transações financeiras a aspectos da vida privada. Entre elas estão, por exemplo, a recomendação de que eles se casem apenas no regime de separação total de bens, o que significa fechar a porta de entrada para os não nascidos no berço de ouro da dinastia. O documento também orienta sobre qual modelo de testamento seguir. Chega a detalhes de regulamentar o uso de propriedades comuns, como casas de veraneio e apartamentos no exterior (veja o quadro na pág. 25). O objetivo de tal iniciativa está expresso nas primeiras páginas: formar futuros acionistas, evitar disputas entre herdeiros e, principalmente, impedir que sua fortuna um dia desapareça. A ideia é manter a linhagem coesa, com o patrimônio circunscrito aos membros, e garantir que a casta estabelecida há quase um século no Rio de Janeiro tenha no futuro dias tão gloriosos como os atuais. "Nossa empresa é estritamente familiar, o que torna fundamental criar um código que nos mantenha unidos e prepare as novas gerações", explica Olavo Monteiro de Carvalho, 68 anos, da terceira geração e coordenador do livro. "Temos de preservar o leitinho das crianças."
Ao contrário de outros potentados, como os Ermírio de Moraes ou os Gerdau, os Monteiro de Carvalho não administram fábricas, mineradoras nem siderúrgicas. O clã é dono do Grupo Monteiro Aranha, que basicamente investe em outras companhias. Nos últimos cinquenta anos, eles foram sócios das filiais brasileiras da montadora alemã Volkswagen e das empresas francesas Peugeot e Moët & Chandon. Atualmente, controlam nacos da Klabin Celulose e do Grupo Ultra, além de estarem envolvidos em uma série de incorporações imobiliárias pelo Brasil. Estima-se que essas participações, sem contar o patrimônio pessoal de seus membros, correspondam a 1 bilhão de reais. Com tanto dinheiro, tantas propriedades aqui e no exterior, pode parecer para quem está de fora que há um certo exagero na preocupação familiar com o risco de um colapso no futuro. Não é bem assim. Na prática, trata-se de um antídoto contra as mesmas armadilhas que tragaram no passado os bens de sobrenomes poderosos como os Guinle, no Rio, e os Matarazzo, em São Paulo. E é também um passo definitivo rumo à profissionalização do grupo, pois o código leva em conta uma realidade matemática: para garantir o sustento dos herdeiros, essas riquezas precisam crescer. Se forem dilapidadas por retiradas sistemáticas de cada um dos seus integrantes, com o passar do tempo o patrimônio diminui e pode até desaparecer. De acordo com um estudo de John L. Ward, especialista americano em empresas familiares, apenas 34% desses grupos conseguem sobreviver quando o bastão passa da primeira para a segunda geração. A partir daí, só a metade — 17% do montante inicial — reúne condições de passar o comando para a terceira geração.
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Por esse aspecto, os Monteiro de Carvalho já são vencedores: eles estão na quinta geração e não há sinal de pobreza no horizonte (veja o quadro na pág. 26). Mas entenderam que o crescimento da descendência, as possíveis disputas por herança e genros ou noras aventureiros poderiam se tornar uma amea-ça no futuro. O momento de iluminação surgiu a partir de uma temporada de estudos nos Estados Unidos de Joaquim Pedro, filho caçula de Lilibeth Monteiro de Carvalho com o ex-presidente Fernando Collor de Mello. Em Harvard para uma especialização em finanças, o rapaz de 32 anos teve aulas com o professor John Davis, um dos maiores especialistas do mundo no assunto. Nesse curso, Joaquim Pedro aprendeu que uma em cada três famílias controladoras de empresas possui uma organização similar para garantir sua unidade e a perpetuação da riqueza. Um caso clássico estudado por lá é o dos Rothschild, cujos descendentes do sexo feminino, ao completarem 18 anos, recebem em dinheiro o equivalente ao valor de suas ações e as repassam para os demais membros. O mesmo acontece com os homens que são malsucedidos nos negócios. Joaquim Pedro saiu fascinado com aquilo tudo e viu que alguns dos ensinamentos poderiam ser aplicados em casa. Na volta, tentou convencer os parentes a adotar um código semelhante, incluindo as mulheres, é claro. Isso foi há quatro anos. No princípio, as reuniões eram confusas, as pessoas não levavam a história muito a sério e os encontros serviam somente para botar as fofocas em dia. Como muitos dos membros não estavam envolvidos nos negócios, eles não tinham a dimensão do que aquela mudança representava. Aos poucos, porém, a discussão ganhou corpo. Com o apoio dos mais jovens, eles criaram um site e um boletim informativo bimestral para consolidar os avanços do documento. Agora dão os retoques finais ao texto. "Eu sou administradora, uma irmã trabalha com joias e a outra é psicóloga. No começo foi difícil. Depois, todos entenderam a importância disso", conta Maria Monteiro de Carvalho Cardoso, 36 anos, filha de Olavo.
Existem muitos milionários e até bilionários no Rio e no Brasil, mas poucas dinastias são capazes de exercer o charme e o fascínio do clã carioca (veja a árvore genealógica ao lado). A propriedade de Santa Teresa, uma espécie de condomínio formado por um espetacular palacete de 4 000 metros quadrados e três outras mansões anexas, apenas reforça essa aura. Ladeada por palmeiras imperiais e debruçada sobre a Baía de Guanabara, a casa principal é decorada com peças art déco dos anos 30 trazidas de Paris, como lustres de René Lallic e móveis feitos por Jules Leleu. "Os Monteiro de Carvalho não têm medo de usufruir o que a riqueza proporciona", diz o arquiteto paulista Sig Bergamin, amigo da família. Disso ninguém duvida. Seus salões repletos de quadros e esculturas já receberam presidentes, estrelas internacionais do calibre de Mick Jagger e banqueiros da linhagem Rothschild. "As primeiras recepções feéricas a que fui, quando ninguém sequer pensava em decoração de festas, foram na casa deles", recorda Carmen Mayrink Veiga, ícone da alta sociedade. A antiga mansão que tinham em Cap Ferrat, praia chique no sul da França, vizinha a Mônaco, era ponto de concentração para brasileiros de suas relações que assistiam ao Grande Prêmio de Fórmula 1, em Monte Carlo. "No dia da corrida eles alugavam a melhor suíte do Hotel de Paris e levavam todos para ver a prova do terraço", lembra Helcius Pitanguy, filho do cirurgião plástico Ivo Pitanguy, que integrou uma das comitivas.

A fabulosa mansão de Santa Teresa: objetos de arte trazidos de Paris e festas trepidantes abarrotadas de celebridades
Boa parte dessa mística em torno dos Monteiro de Carvalho decorre de sua impressionante capacidade de desafiar continuamente as regras sociais e ainda assim continuar a ser referência no grand monde — uma característica que data dos primórdios do clã. A saga tem início nos anos 20, em Santa Teresa, onde o fundador da linhagem, Alberto Monteiro de Carvalho e Silva, se instalou com a mulher, Beatriz de Souza Castro, e os filhos, Alberto e Joaquim, o Baby. O patriarca vinha de uma bem-sucedida carreira como arquiteto e engenheiro em São Paulo, onde era sócio de Olavo Egydio de Souza Aranha, membro da família que fundou o Banco Itaú. Em um arranjo um tanto quanto extravagante, Olavo Egydio morava na mesma casa do casal, no que se dizia ser um triângulo amoroso - — corriam comentários de que os dois cavalheiros eram apaixonados por Beatriz. Os boatos ganharam mais força após a morte do patriarca, em 1967, quando a viúva e Olavo Egydio se casaram em Lausanne, na Suíça. "Eles não têm preconceitos", destaca Lourdes Catão, responsável pelo livro Sociedade Brasileira, um guia de endereços e telefones de sobrenomes estrelados.
Em razão desse comportamento, digamos, mais liberal, eles já protagonizaram alguns grandes escândalos. Na verdade, deslizes de ordem pessoal, que podem acontecer em qualquer família, mas que no caso deles se tornam públicos e ganham as manchetes dos jornais. Nesse cenário, o código de conduta talvez ajude a reduzir o prejuízo (ao menos financeiro) com episódios dessa natureza. Algumas das histórias são bastante conhecidas. Por 32 anos, Baby, o filho caçula de Alberto e Beatriz, manteve uma relação extraconjugal com a marchande Valéria Braga. "Todos sabiam. Eu frequentava lugares públicos com ele e viajava à Europa junto de seus filhos", diz ela. No entanto, quando a história veio a público de maneira estrepitosa, em 2000, ganhou ares de atentado aos bons costumes. Uma filha de Valéria, Alessandra Rabelo, então com 30 anos, descobriu que seu pai era na verdade Baby e moveu uma ação de reconhecimento de paternidade. Depois de dois anos de disputa judicial, ele foi obrigado a reconhecê-la como filha. Apesar do bafafá, sua mulher, Eva, continuou a seu lado até ele morrer, há dois anos. Hoje, aos 91 anos, ela é a única moradora do casarão de Santa Teresa. Confusão semelhante foi provocada por Astrid, neta de Baby, quatro anos atrás (há mais duas mulheres com o mesmo nome na família). Ela revelou ao marido, Marcos Campos, que o filho do casal, Antonio, era na verdade fruto de um affair com o empresário Alexandre Accioly. Na época, os primos de Astrid a defenderam em entrevistas aos jornais e revistas de celebridades. "A família é famosa por ser unida e se fechar nas horas difíceis", afirma Lourdes Catão.
Viver e morrer como um Monteiro de Carvalho Trechos da Constituição familiar que começou a ser escrita há quatro anos e está em fase de conclusão
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Esse pendor à união se revela de maneira mais intensa quando o assunto diz respeito a dinheiro e aos negócios. Entre os Monteiro de Carvalho não se veem disputas barulhentas como a que atingiu recentemente outro tradicional clã carioca, os Geyer. Um racha entre irmãos e um sobrinho acabou atrasando por várias semanas a venda da empresa da família, a petroquímica Quattor, para a Braskem, dos Odebrecht. Os senhores da mansão de Santa Teresa jamais brigam em público, um comportamento que será reforçado no manual de convivência. Pelo novo código, os conflitos devem ser resolvidos por arbitragem independente, bem longe dos olhos e ouvidos alheios. O documento também registra que existe a possibilidade de diferenças entre o estilo de vida dos diversos parentes, dado o elevado número de herdeiros, e reitera a importância do espírito de cooperação, recomendando a ajuda mútua entre primos, irmãos, tios e sobrinhos em caso de necessidade, principalmente no que diz respeito a custeio de despesas com saúde e educação. Não será um grande esforço, dado o histórico de generosidade. Nos anos 80, quando ainda tinham parte da Volkswagen, eles costumavam dar carros de presente aos amigos. Mai recentemente, passaram a socorrer velhos companheiros de festa com finanças encrencadas. "Todo o Rio de Janeiro sabia que o Baby dava uma mesada ao Jorginho Guinle no fim da sua vida", comenta Carmen Mayrink Veiga. Um comportamento que só reforça a aura de encantamento em torno deles. Pelo jeito, uma dinastia que ainda terá gerações muito poderosas nas próximas décadas.
Fotos álbum de família ![]() |
O núcleo fundador da dinastia passeia em Paris nos anos 30: Alberto Filho (primeiro à esquerda); o patriarca, Alberto, e sua mulher, Beatriz; o sócio Olavo Egydio; e Joaquim Francisco, o Baby. |
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O ex-presidente Juscelino Kubitschek com Olavo Egydio e Baby. |
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Baby com a mulher, Evinha, a bordo de um avião; e, no destaque, Alessandra, filha dele nascida fora do casamento. |
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Álvaro Garnero, outro membro do clã, com sua ex-namorada, a modelo Caroline Bittencourt. |
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O ex-presidente Collor com os filhos Arnon e Joaquim Pedro. |
Não restringem tal finalidade de tratamento apenas entre familiares e amigos,também são maravilhosos para com seus funcionários,que não os consideram como patrões e sim amigos de seus colaboradores.Não são bilhonarios apenas em valores monetários,mais também em reconhecimento,carinho e bondade,podendo ser rico ou pobre, instruído ou sem instrução, são todos tratados com igualdade e respeito.
ResponderExcluirPesso a Deus que abençoe, ilumine e proteja todas os membros e gerações dessa família.
Joel Carvalho. 04/09/2012.