29/11/2010

Poder dos Médiuns - Comprovação Científica


A edição da Revista ISTOÉ trás uma reportagem sobre Médiuns / Mediunidade.

O poder dos médiuns
Como a ciência justifica as manifestações de contato 
com espíritos e por que algumas pessoas desenvolvem o dom

por Suzane Frutuoso fotos Murillo Constantino
O espiritismo é seguido por 30 milhões de pessoas no mundo. 
O Brasil é a maior nação espírita do planeta. São 20 milhões de adeptos e simpatizantes, segundo a Federação Espírita Brasileira – no último Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) 2,3 milhões declararam seguir os preceitos do francês Allan Kardec, o fundador da doutrina. A mediunidade, popularizada pelas psicografias de Chico Xavier, em Uberaba (MG), ganhou visibilidade 
nos últimos anos na mesma proporção em que cresceu o espiritismo. Mas nada se compara ao poder da mídia atual, que permite debater os ensinamentos da religião por meio de livros, programas de tevê e rádio. 
Os romances com temática espiritualista de Zíbia Gasparetto, por exemplo, são presença constante nas listas de mais vendidos. Embora não haja estatísticas de quantos entre os praticantes são médiuns,  o que se observa é uma quantidade maior de pessoas que afirmam possuir o dom
O interesse pela religião codificada por Kardec é confirmado pelo recorde de público do filme Bezerra de Menezes – o diário de um espírito, do cineasta Glauber Filho: 250 mil espectadores, desde o lançamento nos cinemas, em 29 de agosto. Um número alto para uma produção nacional. 
O longa, com o ator Carlos Vereza (também praticante do espiritismo) no papel-título, conta a história do cearense que ficou conhecido como "médico dos pobres", se tornou ícone da doutrina e orienta médiuns em centenas de centros a se dedicar ao bem e à caridade. 


PSICOGRAFIA 
Instrumento por meio dos livros
A psicóloga Marilusa Vasconcelos, 65 anos, de São Paulo, é conhecida no espiritismo pela sua vasta literatura psicografada. Em 40 anos de dedicação à mediunidade, publicou 61 livros. Seu orientador é o espírito do poeta Tomás Antonio Gonzaga, que participou da Inconfidência Mineira. A dedicação à psicografia levou Marilusa a fundar em 1985 a Editora Espírita Radhu, sigla para renúncia, abnegação, desprendimento e humildade, a base dos ensinamentos na doutrina. Ela reúne outros dons, como ouvir, falar e enxergar espíritos e ser instrumento deles na pintura mediúnica. "Os vários tipos surgiram desde a infância", conta Marilusa, que nasceu numa família espírita. "O controle da mediunidade é indispensável. O médium não é joguete do espírito. Eles interagem, num acordo mútuo de  tarefa."



Os espíritas dizem que todas as pessoas têm algum grau 
de mediunidade


Qualquer um seria capaz de emitir pensamentos em 
forma de ondas eletromagnéticas que chegariam a 
outros planos. O que torna algumas pessoas especiais, 
segundo os praticantes, a ponto de se transformarem 
m canais de comunicação com os mortos, é uma 
missão – designada antes mesmo de nascerem, 
determinada por ações em vidas anteriores 

e que tem na caridade o objetivo final. 


"É uma tarefa em favor da evolução 
de si mesmo e da ajuda ao próximo", 

diz Julia Nesu, diretora do departamento 
de doutrina da União das Sociedades Espíritas do 
Estado de São Paulo. 
Fenômenos relacionados a pessoas que falavam 
com mortos e envolvendo objetos que se mexiam 
são relatados desde o século XVII, tanto na Europa 

quanto nas Américas, mas hoje cientistas tentam 
compreender o fenômeno. 
Algumas linhas de pesquisa mostram que o cérebro 
dos médiuns é diferente dos demais.
São cinco os meios de expressão da mediunidade. 
A psicografia, que consagrou
 Chico Xavier, é a mais conhecida. Nela, o médium 
escreve mensagens e histórias que recebe de 
espíritos. Estaria sob o controle deles o que as mãos 
transcrevem. 
A vidência permite enxergar os mortos que não 
conseguiram se desvencilhar da Terra ao não 
aceitarem a morte ou que aparecem para enviar 
recados a entes queridos. Na psicofonia, o sensitivo 
é capaz de ouvir e reproduzir o que os espíritos 
dizem e pedem. A psicopictografia, ou pintura mediúnica, 
permite ao médium ser instrumento de artistas 
desencarnados (termo usado pela doutrina para designar 
mortos). A mediunidade da cura é responsável pelas 
chamadas cirurgias espirituais. Não é incomum um 
mesmo indivíduo reunir mais de um tipo de dom.

VIDÊNCIA
Ver e auxiliar aqueles que estão em outro plano

Aos cinco anos, o chefe de faturamento hospitalar Ivanildo Protázio, de São Paulo, 49 anos, pegava no sono com o carinho nos cabelos que uma senhora lhe fazia todas as noites. Descobriu tempos depois que era a avó, morta anos antes. Aos 19 anos, os espíritos já se materializavam para ele.
"Nunca tive medo.                        Sempre me pareceu natural." A mãe, que trabalhava na Federação Espírita, o encaminhou para as aulas em que aprenderia a lidar com o dom. Hoje, Protázio é professor de educação mediúnica. Essa é uma parte da sua missão. A outra é orientar os espíritos que lhe pedem auxílio para entender o que aconteceu com eles. A oração é o remédio. "Os espíritos superiores me ensinaram a importância da caridade para nossa própria evolução."

A reportagem de ISTOÉ presenciou uma 
manifestação mediúnica em Indaiatuba, 
interior de São Paulo. 
O tom de voz baixo e os gestos delicados de 
Solange Giro, 46 anos, sugeriam que ela
carrega certa timidez ao expor a própria 
vida numa conversa com um estranho. 
Cerca de duas horas depois, porém, é 
difícil acreditar no que os olhos vêem. 
Diante de uma tela em branco, sobre 
uma mesa improvisada com dezenas 
de tubos de tinta, a mulher 
começa a 


pintar 
um quadro na seqüência de outro. 


O tempo gasto em 
cada um não passa 
de nove minutos. As obras são coloridas 
e harmoniosas. 
"Nunca fiz aula de artes. Mal conseguia 
ajudar meus filhos com os desenhos
 da escola", diz, minutos antes da apresentação. 
A discreta Solange dá lugar a uma pessoa 
que fala alto, canta e encara os interlocutores 
nos olhos, com ar desafiador. A assinatura nas 
telas não leva seu nome, mas de artistas famosos
– e já mortos –, como Monet, Mondrian e Tarsila 
do Amaral. Seria uma interpretação digna de uma 
triz? Talvez. O que difere o momento de uma encenação 
é subjetivo e dá margem a dezenas de explicações 
– convincentes ou não. Talvez seja possível encontrar 
respostas no que a artista diz a cada uma das pessoas 
da platéia presenteadas com udos dez quadros 
produzidos na noite. Enquanto entregava a obra, ela 
desferia características e situações de vida de cada 
um absolutamente desconhecidas dela. O mentor 
que a guia é o médico holandês Ernst, que viveu no 
século XVII. A sensitiva garante que era ele, 
não ela, quem estava presente na pintura dos 
quadros. Nem sempre é fácil aceitar a mediunidade, 
que pode causar medo quando começa a se manifestar. 
"Ainda hoje não gosto quando vejo o possível 
desencarne de alguém. Nestas horas, preferia não saber", 
conta a psicóloga Marilusa Moreira Vasconcelos, 
65 anos, de São Paulo, que psicografa. 
O médium de cura Wagner Fiengo, analista fiscal 
paulistano, 37 anos, chegou a se afastar da doutrina. 
"Aos 13 anos não entendia por que presenciava aquilo.
" Para manter a sanidade e o equilíbrio, as pessoas que 
possuem dons e querem fazer parte da religião espírita 
precisam se 
dedicar à educação mediúnica. O curso 


leva cinco anos. Inclui os ensinamentos 
que Allan Kardec 


compilou no Livro dos Espíritos – a obra que deu base ao 
entendimento da doutrina – e no Livro dos Médiuns – 
que explica quais são os tipos de mediunidade, como 
eles se manifestam e os cuidados a serem tomados.
Entre eles, o combate a falhas de comportamento, como vaidade, 
orgulho e egoísmo. O Espiritismo prega que as imperfeições 
da personalidade atraem espíritos com a mesma vibração. 
"O pensamento é tudo. Aqueles que pensam positivo 
atrairão o que é semelhanteO mesmo acontece com 
o pensamento negativo e os vícios. Quem gosta de beber, 
por exemplo, chama a companhia de espíritos alcoólatras", 
afirma o professor de educação mediúnica Ivanildo 

Protázio, 49 anos, de São Paulo, que tem o dom da vidência.

PSICOFONIA 
Falar o que os espíritos querem dizer
A intuição do servidor público Geraldo Campetti, 
42 anos, de Brasília, 

começou na infância. Ele tinha percepções inexplicáveis, 
das quais mais ninguém se dava conta. 
Era como se absorvesse sentimentos que não eram 

seus. Apenas identificava que existia algo 

além do que seus olhos enxergavam. 

Até que as sensações começaram a tomar forma. 
Campetti passou a ouvir súplicas de ajuda. De espíritos, 



inconformados com a morte. Aos 29 anos, 
não se assustou. De família espírita, conhecia a 
mediunidade. "Mas sabia que precisava estudar 

para manter o equilíbrio", diz. Hoje diretor da 

Federação Espírita Brasileira, afirma ter controle 

sobre o dom de ouvir e transmitir recados dos mortos
Eventualmente, um espírito pede uma mensagem 

à pessoa com quem ele conversa. 
"Isso é espontâneo, não da minha vontade."
Imaginar que convivemos no cotidiano com pessoas 
que estão mortas vai além da compreensão sobre a vida 
– pelo menos para quem não acredita em reencarnação. 
Mas até na ciência já existem aqueles que conseguem 
casar racionalidade com dons espirituais. Esses 
especialistas afirmam que a mediunidade é um 
fenômeno natural, não sobrenatural
E que o mérito de Allan Kardec foi explicar de maneira 
didática o que sempre esteve presente – e registrado 
– desde a criação do mundo em todas as religiões
O que seria, dizem os defensores da doutrina, a 
anunciação do Anjo Gabriel a Maria, mãe de Jesus, 
se não um espírito se comunicando com uma sensitiva? 
Afirma o neurocirurgião Nubor Orlando Facure, 
diretor do Instituto do Cérebro de Campinas.  
Nas quatro décadas em que estuda a manifestação 
da mediunidade no cérebro, Facure mapeou áreas
 cerebrais que seriam ativadas pelo fluido.
CURA
Cirurgias sem dor nem sangue  


O primeiro espírito a se materializar para o analista fiscal Wagner Fiengo, 37 anos, de São Paulo, foi de um primo. Ele tinha dez anos, teve medo e se afastou. Mas, na juventude, um tio, seguidor da doutrina, avisou que era hora de ele se preparar para a missão que lhe fora reservada. Por meio da psicografia, seu guia espiritual, o médico Ângelo, informou que teriam um compromisso: curar pessoas. Ele não foi adiante. Uma pancreatite surgiu sem que os médicos diagnosticassem os motivos. Há quatro anos, seu guia explicou que as doenças eram ajustes a erros que Fiengo havia cometido numa vida passada. A missão era a forma de equilibrar a saúde e a alma. Em 2004, iniciou as cirurgias espirituais. Ele diz que não é uma substituição ao tratamento convencional. "É um auxílio na cura de fatores emocionais e físicos."



 
 

Comprovar cientificamente a mediunidade 
também é objetivo do psiquiatra Sérgio Felipe 
Oliveira, professor de medicina e espiritualidade 
da Faculdade de Medicina da USP e membro da 
Associação Médica-Espírita de São Paulo. Com 
exames de tomografia, ele analisou a glândula 
pineal (uma parte do cérebro do tamanho de 
um feijão) de cerca de mil pessoas. 
"Os testes mostraram que aqueles com facilidade 
para manifestar a psicografia e a psicofonia 
apresentam uma quantidade maior do mineral 
cristal de apatita na pineal", afirma Oliveira. 
Ele também atende, no Instituto de 
Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo, 
casos de pacientes de doenças como dores crônicas 
epilepsia que receberam todos os tipos de 
tratamento, não tiveram melhora e relatam 
experiências ligadas à mediunidade. 
"Somamos aos cuidados convencionais, 
como o remédio e a psicoterapia, a espiritualidade, 
que vai desde criar o hábito de orar até a meditação. 
os resultados têm sido positivos." Uma pesquisa 
de especialistas da USP e da Universidade Federal de
Juiz de Fora, publicada em maio no periódicoThe 
Journal of Nervous and Mental Disease, comparou 
médiuns brasileiros com pacientes americanos de 
transtorno de múltiplas personalidades (caracterizado 
por alucinações e comportamento duplo). Eles 
concluíram que os médiuns apresentam 
prevalências inferiores de distúrbios mentais, 
do uso de 
antipsicóticos e melhor interação social.
A maior parte dos cientistas acredita que a 
mediunidade nada mais é do que a manifestação 
de circuitos cerebrais. Alguns já seriam explicáveis, 
como os estados de transe. Pesquisas da Universidade 
de Montreal, no Canadá, e da Universidade da 
Pensilvânia, nos Estados Unidos, comprovaram 
que, durante a oração de freiras e monges católicos, 
a área do cérebro relacionada à orientação corporal 
é quase toda desativada, o que justificaria a sensação de 
desligamento do corpo. Os testes usaram imagens de 
ressonâncias magnéticas e tomografias feitas 
no momento do transe.
A teoria seria aplicável ao transe mediúnico, 
quando o médium diz incorporar o espírito e 
não se lembra do que aconteceu. Pesquisadores da 
Universidade de Southampton, na Inglaterra, 
estudaram pessoas que estiveram entre a vida e 
morte e relataram se ver fora do próprio corpo 
durante uma operação ou entrando em contato 
com pessoas mortas. Os estudiosos concluíram 
se tratar de um fenômeno fisiológico produzido 
pela privação de oxigênio no cérebro. Trabalhando 
sob stress, o órgão seria também inundado de 
substâncias alucinógenas. As imagens criadas 
pela mente seriam apenas a retomada de percepções 
do cotidiano guardadas no inconsciente. 


PSICOPICTOGRAFIA 

Milhares de quadros pintados
Criada numa família católica, Solange Giro, 46 anos, de Parapuã, interior de São Paulo, teve o primeiro contato com o espiritismo aos 20 anos, ao conhecer o marido. Ele, que perdera uma noiva, buscava o entendimento da morte. Já casada e com dois filhos, passou a sofrer de depressão. Encontrou alívio na desobsessão (trabalho que libertaria a pessoa de um espírito que a domina). A mediunidade dava os primeiros sinais. Logo passou a ouvir e ver espíritos. O dom da psicografia veio em seguida. Era um treino para ser iniciada na pintura mediúnica. "Pintei cinco mil quadros no primeiro ano. Estão guardados. Não tive autorização para mostrálos", conta Solange, que diz nunca ter estudado artes. Nos últimos 13 anos, ela recebeu aval de seu mentor para vender os quadros. O dinheiro é revertido para a caridade.
Da mesma maneira que todos os presentes à sessão de pintura em Indaiatuba saíram atônicos, sem conseguir explicar como alguém que conheceram numa noite foi capaz de decifrar suas angústias mais inconfessáveis. 

O psiquiatra Sérgio Felipe Oliveira rebate a incredulidade.
"Se uma pessoa está em cirurgia numa sala e consegue descrever em detalhes o que ocorreu em um ambiente do outro lado da parede, é possível ser apenas uma sensação?" Essa é uma pergunta que nenhuma das frentes de pesquisa se arrisca – ou consegue – a responder com exatidão. 












































































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