No tempo das anquinhas e das ceroulas, acertar os ponteiros de uma relação era uma coisa muito complicada. À espera de um príncipe encantado – que, como bom exemplar do gênero, nunca chegava – disposto a desabrochar-lhe o coração com um punhado de flores, estrelas e outros rococós, a mulher sonhava. E sonhava. E passava a vida inteira sonhando. Hoje, depois de muitas voltas do mundo, a mulher desconfia, inclusive do herói romântico, que agora tem sua real identidade minuciosamente analisada por um time cada vez mais escolado na tarefa de encontrar o homem ideal.
Muita gente acredita que o tipo amante à moda antiga é mesmo, como diz o próprio rótulo, peça de antiqüário. “Esse homem romântico não existe mais, nós mesmas banimos ele. Eu até acredito numa intenção fudamentalmente romântica de um homem, mas eles próprios têm medo de manifestar isso porque sabem que isso sufoca a mulher, já aprenderam essa lição”, teoriza a socióloga Célia Ribeiro. Se a questão é essa, a gerente financeiro Sandra Moreira se revela uma das professoras desse aprendizado. “Adoro homem romântico, aquele homem que se importa com a gente, que manda bilhetinho desejando boa sorte em entrevista de emprego. O que não é bom é homem meloso, dispenso logo e faço questão de deixar os motivos bem claros”, garante. Já a vendedora Vanessa Simões vai pelo caminho oposto e descrê totalmente da existência de um autêntico romântico. “Esse modelo respeitador demais, que manda flores, põe a camisa em cima da poça para você passar por cima me assusta muito. Acabo desconfiando que ele é gay, ou quer compensar alguma desvantagem sexual ou tem outra intenção obscura por trás desse tipo de atitude”, acredita.
Talvez sem querer, Vanessa acabou mexendo com um assunto sério para o time masculino. “O conceito de homem romântico mudou”, garante o músico Flávio Bria, que se diz membro honorário desse novo time. “Estou casado há sete anos e me sinto cada vez mais inclinado a aceitar meu lado sonhador de uma forma madura. Para mim, é tudo uma questão de bom senso. Existem supostas manifestações de romantismo que são inúteis, só servem para sufocar. Hoje em dia, essas coisas soam na cabeça de uma mulher como algo que vai ser cobrado futuramente. É ruim, mas é assim”, acredita.
Na opinião do jornalista Bernardo Cunha, o que acaba afastando as mulheres e gerando o clima de desconfiança é a enorme confusão criada por novos valores e modelos. “O que eu acho que não deve ser confunfido é o romantismo com virilidade. O homem pode e deve ser romântico mas sem perder a autoconfiança. Apesar de tantas mudanças, uma coisa ainda se mantém: de um jeito ou de outro, toda mulher gosta de se sentir protegida e tem um conceito de amor muito próximo disso”, define.
Na opinião do psicólogo Paulo Próspero, estamos mesmo em tempo de grandes mudanças. Para ele, o mundo passou por transformações comportamentais muito profundas no século XX e só agora a poeira começa a baixar para que tudo o que aconteceu seja assimilado. “Todo mundo está muito confuso. Os últimos cem anos foram um período único de transformações muito grandes e muito rápidas. Acho que o conceito de homem romântico está se desprendendo do conceito do amante cortês, aquele da idade média. O homem e a mulher estão se equilibrando”, comenta. E isso é visto por ele de um modo muito positivo. “Estamos caminhando para uma maior igualdade de condições dentro do relacionamento. Realmente está nascendo um novo modelo de romantismo, o romantismo do século XXI”, conclui.
Fonte: Bolsa de Mulher
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