Quando eu era garotinho e pensava no ano 2000, dizia a mim mesmo:
– Vou estar velho! Com mais de 30!
Que coisa, hein! Descobri as vantagens e desvantagens de cada década. Dos 20 para os 30, engordei. Nos 40, 50, também. Cada passagem correspondeu a um aumento inexorável em peso. Nos 60, me conformei: essa barriga não vai sair daí. Posso minimizá-la. Disfarçá-la usando malhas pretas. Perder completamente, nunca. Meu personal trainer, Igor, garante que basta me dedicar. Bem... uma coisa que os anos ensinam é que "personais", médicos de regime, cirurgiões plásticos são sempre otimistas. Questão de idade, também. Lá pelos 50 anos, meus pelos começaram a crescer, exuberantes como floresta amazônica. Saíram pelas orelhas. Nariz. No peito surgiu uma cabeleira, poderia fazer penteado rastafári com eles. Mais trágico foi o dia em que olhei para baixo e... não vi. Bem, você sabe exatamente o que não. Havia uma espessa cabeleira lá, onde deveria estar meu troféu.
– Meu pênis tá de peruca! – gritei.
Claro que não usei a palavra "pênis".
Um amigo de infância, Raul, começou a me dar aulas de pilates. Tem a mesma idade que eu, mas anda lépido como um rapaz de 16. É filho de uma bailarina, famosa em sua época, Ruth Rachou. Mexe com o corpo desde criança. Raul tenta me esticar. É mais ou menos como puxar uma persiana velha. Nervos rangem. Ossos estalam. Recentemente, fui jurado no Programa do Faustão, no quadro "A dança dos famosos". A certa altura, Faustão me perguntou:
– O que prefere dançar?
– Sou como uma vassoura – respondi.
Uma amiga, Luciane, já me ligou. Quer contratar um "personal" de dança de salão para nós dois.
– Seremos duas vassouras – disse.
Topei. Confesso: por mais livros que tenha escrito, peças e novelas, meu sonho sempre foi dançar um tango bem desenhado. Talvez ainda consiga, mas não prometo nada. A última proeza que pratiquei foi há dez anos, quando subi uma cachoeira de joelhos. Estava no meio da mata, em Bonito, Mato Grosso do Sul, distante da civilização, acompanhado apenas por um guia. Ou subia a cachoeira ou esperava resgate, entre as onças-pintadas.
A idade me torna também mais deselegante. Há uma época da vida em que a gente quer se vestir bem para atrair amores eventuais ou duradouros. Os anos ensinam é que não sou eu que atrairei olhares por meu porte físico. A não ser de alguma alma fetichista, que goste de sessentões. Cada vez mais, só uso calças confortáveis e camisetas. Minto dizendo aos mais próximos que acho elegantíssimo camiseta com paletó. Falsidade pura. É só para me livrar dos botões das camisas que, inevitavelmente, estouram no meu umbigo. Acredito que tenho charme. Mas vem das palavras, do sorriso, da vontade de me relacionar. Gosto das pessoas. Conhecer outros seres humanos enriquece a vida.
Sou vaidoso, reconheço. Já fiz lipo no abdome. Durante dois meses, dei minhas roupas antigas, numa grande comemoração, porque tinha me tornado magro, magro! No terceiro, tive de comprar tudo de novo. Se uso um casaco da época em que era esguio, a barriga salta! Também fiz um "minilifting", para tirar a papada. Ela também voltou, é claro. Passei a fazer a barba atrás da orelha. É, sim, uma das consequências de quem puxa a pele.
Hoje, quando me perguntam, respondo:
– Acho bonito assumir a idade.
Mais falsidade. Contemplo uma uva-passa e prevejo meu futuro. Quem quer isso, de livre e espontânea vontade?
Já subi pirâmides astecas e maias. Atravessei trilhas e matas em montanhas. Há 15 anos, subi uma escadaria de 300 degraus, em Barcelona, para chegar à Fundação Miró. Havia um teleférico, mas eu estava pleno de energia. A Fundação estava fechada, e arrebentei a perna esquerda. Já fiz ressonância, tomografia, tudo. Não aparece o problema. Deve ser mínimo, segundo o médico. Mas dói. Aprendi que, a partir de certa idade, tudo permanece, menos o casamento. Um músculo rompido dura mais que um relacionamento. No ano passado fui à Turquia. Visitei uma cidade subterrânea com túneis estreitos e escadas mínimas. Quase tive de ser guinchado. Decidi: só vou às pirâmides do Egito quando instalarem escadas rolantes.
A passagem dos anos implica limites. E na juventude, também não tive, de outros tipos? O bom é cultivar as vantagens que a idade oferece. Entre elas, filas de prioridades. Sempre sou um dos primeiros a entrar no avião ou a ser atendido no banco. Que delícia!
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