20/01/2014

ROLEZINHO.




O "rolezinho", na sua atual configuração, é uma criação da imprensa. 

Os Jovens que aderem a eventos por intermédio do Facebook não são excluídos sociais, mas incluídos da cultura digital, que já é pós-shopping, pós-mercadoria física e pós-racial. O que mais se troca nas redes sociais são bens simbólicos, são valores, que definem tribos e grupos com pautas cada vez mais específicas.

 Cada um desses nichos de opinião considera que tem o direito de impor a sua pauta ou seus hábitos ao conjunto da sociedade se necessário, pela força. Os que fazem "rolezinhos" não estão cobrando mais democracia, como alguns afirmam, eles manifestam, na prática, é desprezo pela cultura democrática. E são bem-sucedidos. Fernando Haddad os chamou para uma reunião na prefeitura. A ministra Luiza Bairros lhes atribui uma agenda libertadora. 

Não se percebia, originalmente, nenhuma motivação de classe ou de "raça" nessas manifestações. Agora, sim, grupos de esquerda, os tais "movimentos sociais"  estão tentando tomar as rédeas do que pretendem transformar em protesto de caráter político. Se há, hoje, espaços de fato públicos, são os shoppings. As praças de alimentação, por exemplo, são verdadeiras ágoras da boa e saudável democratização do consumo e dos serviços. Lá estão pobres, ricos, remediados, brancos, pretos, pardos, jovens, velhos, crianças... 

Ocorre que o jornalismo e a academia são reféns morais das ideias mortas que oprimem o cérebro dos vivos. Continuam na expectativa da grande virada de mesa, uma ilusão redentora que só sobreviveu na América Latina. Se os participantes dos "rolezinhos" fossem rebeldes políticos, ainda que primitivos, o seu papel seria o de uma protovanguarda revolucionária à espera do Lênin dos shoppings.

Para encerrar, uma curiosidade: por que jornalistas se referem a frequentadores habituais de shoppings como "gente de bem", assim, entre aspas, como se quisessem sugerir que eles, na verdade, são do mal? O que há de errado, coleguinhas, com aquela gente? Ela assina os jornais e revistas que fazemos, lê as coisas que escrevemos nos portais, sites e blogs e, na prática, paga os nossos salários. Quando menos, parem de cuspir no prato em que comem. Aquela gente de bem, sem aspas, é inocente.  

Reinaldo Azevedo

 Folha de S. Paulo 



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