08/07/2014

Com preços mais baixos que no exterior, cigarro vira suvenir de turistas no Brasil .

Os turistas brasileiros voltam dos Estados Unidos com eletrônicos e tênis novos, retornam da Europa com roupas mais baratas de grandes marcas e saem da Argentina com doce de leite e vinhos. Já os estrangeiros da Copa deixam o Brasil carregando as tradicionais Havaianas. E cigarros. A diferença no preço do cigarro faz com que o produto seja encomendado por europeus que ficaram no Velho Continente, como alguns brasileiros fazem com iPads dos EUA.

— Alguns amigos pediram para que eu levasse uma cachaça e cigarros do Rio, já está virando suvenir — conta o alemão Axel Wilhen, morador de Munique. — Na Alemanha os impostos dos cigarros continuam a subir a cada ano.



E o pedido não é brincadeira. Um pacote com dez maços de cigarros da marca que gosta, que no Brasil sai por R$ 67, custa R$ 150 na Alemanha. Em outros países, um simples maço sai por R$ 20, contra R$ 6 em qualquer bar brasileiro. Na Europa, os cigarros continuam encarecendo, com os altos encargos para compensar os gastos do sistema de saúde com os doentes vítimas do fumo e com tributos para desestimular o ato de fumar. Resultado: as vendas do produto triplicaram nos quiosques de Copacabana e Leme, administrados pela concessionária Orla Rio, durante o Mundial de futebol.

— Esperávamos uma forte alta de venda em todos os produtos, o que de fato ocorreu, mas o aumento das vendas de cigarros nos surpreendeu. Não faltou produto, as empresas conseguiram atender essa alta da demanda, muito concentrada nos quiosques mais próximos da Fan Fest — explica João Marcello Barreto, vice-presidente da Orla Rio.

'ESTOU VENDENDO POR SEMANA O QUE VENDO EM UM MÊS'

A banca de José de Lima Gerônimo, no interior do bairro, confirma o movimento acima do normal.

— A venda é como se fosse um réveillon por dia no período de Copa. Tem gente que vem e compra vários maços de uma vez, pedem até o pacote fechado, mas pegam o preço como se fosse avulso — conta.



Com um bar na rua Rodolfo Dantas, rota dos turistas que saem do metrô Cardeal Arcoverde à praia e à Fan Fest, Antônia Carvalho Sales, diz que nunca vendeu tanto cigarro, embora não goste muito disso:

— Durante a Copa estou vendendo por semana o que vendo em um mês. Mas não gosto de vender cigarro, os gringos ficam malucos, querem o cigarro na hora, lotam o bar — disse ela, que conta que eles não se importam com marcas e escolhem na hora dentre as disponíveis.

Mas grande parte desse frenesi é consumido em terras brasileiras. O alemão Armin Hertenberger explica que só poderá entrar de volta em seu país com um pacote com dez maços, do contrário pagará muito imposto.

— Sou um fumante eventual, mas realmente os preços aqui são mais baixos, e a qualidade do cigarro é boa. A vontade é levar alguns maços para casa, mas os impostos na alfândega não valem a pena, embora ache que alguns europeus vão tentar levar algo além do limite — disse.

Para a Souza Cruz, uma das gigantes do setor, há aspectos mais importantes que a diferença de preços para justificar o crescimentos das vendas no período. "Temos duas justificativas: a dedicação da nossa equipe de vendas no atendimento aos nossos clientes varejistas para que pudessem atender esta demanda com qualidade e rapidez; o reforço ofensivo das autoridades policiais no combate ao contrabando".

De acordo com a empresa, o reforço policial durante a Copa inibe a venda de cigarros contrabandeados, que hoje chegam a representar 30% do mercado total do produto, uma perda de 4,5 bilhões de reais em arrecadação. Mas o acréscimo de vendas ainda não foi contabilizado.

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