21/10/2014

Produzir fertilizantes e eletricidade a partir de urina humana.

A urina humana pode ser utilizada para produzir fertilizantes ou eletricidade. A valorização dos nutrientes presentes na urina, como o azoto e o fósforo, é o objetivo do projeto europeu "Value from Urine" coordenado pelo Centre of Excellence for Sustainable Water Technology (WETSUS), na Holanda. Ainda faltam dois anos para o final do projeto, mas a Agência Espacial Europeia (ESA) já mostrou que tem interesse em integrar, nas suas instalações, a tecnologia desenvolvida.

O saneamento doméstico dos países ocidentais mistura todos os resíduos, sejam eles mais ou menos poluentes, aumentando o custo do transporte até às estações de tratamento. Separar as águas residuais, como se faz com o lixo doméstico, permite valorizar alguns dos componentes, nomeadamente a urina, como explica ao Observador Madalena Alves, investigadora no Centro de Engenharia Biológica da Universidade do Minho e coordenadora do projeto em Portugal.

No sanitário podemos ter urina e fezes, que produzem dois tipos de resíduos diferentes. Enquanto as fezes podem ser misturadas com as águas resultantes do lava-loiça e as águas das máquinas de lavar roupa ou loiça, a urina pode ser valorizada. E quanto menos diluída melhor. Os sistemas de saneamento descentralizado não misturam todos os efluentes como os sistemas tradicionais: reutilizam a água dos banhos e do lavatório no autoclismo e separam a urina das fezes em sanitários com dois compartimentos. Além disso, estas sanitários especiais usam um sistema de vácuo reduzindo a quantidade de água usada na descarga, diminuindo também a diluição da urina.


Saneamento descentralizado.

Este tipo de saneamento descentralizado já está sendo usado num condomínio privado com 200 casas na Holanda. Um dos edifícios da autoridade holandesa que gere os recursos hídricos e o saneamento também tem em teste sanitários com compartimentos diferenciados ligados a uma célula microbiana de fluxo – um reator que usa bactérias e urina para produzir eletricidade -, conta a investigadora. Quando as bactérias decompõem a matéria orgânica (neste caso urina) produzem elétrons que são transferidos para o ânodo. Os elétrons passam do ânodo (polo negativo) para o cátodo (polo positivo) através de um circuito elétrico à semelhança do que acontece com uma pilha. Desta forma é possível produzir eletricidade a partir da urina.

Este tipo de tecnologia será mais valorizado em locais sem redes de esgotos e sem redes elétricas. A ESA, que tem equipas a trabalhar em zonas remotas, já se mostrou interessada no projeto por poder vir a suprir as necessidades energéticas e de fertilizantes nestes locais. Para começar vai instalar o sistema de saneamento descentralizado na sede da agência.

O consórcio junta, além da Universidade do Minho como parceiro universitário, várias empresas europeias que serão responsáveis pela produção dos elétrodos, pela avaliação econômica do projeto, pelo sistema de saneamento descentralizado e pela comercialização do produto final. Por agora, o projeto procura aumentar a eficiência e reduzir os custos da tecnologia. "É preciso baixar os custos de produção dos fertilizantes para se tornarem competitivos no mercado", afirma Madalena Alves.

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