01/11/2014

Pesquisa genética revela que DNA de índios botocudos brasileiros é da Polinésia.

Botocudos (Foto: Wikimedia Commons)

Na época da colonização portuguesa, diversos grupos indígenas que ocupavam as regiões onde hoje se encontram os estados de Minas Gerais e Espírito Santo receberam o nome genérico de "botocudos", em referência aos botoques que utilizavam para ornamentar o rosto – aqueles grandes discos de madeira que alargavam a boca e as orelhas. Apesar de terem sido muito numerosos naquela época, hoje estão praticamente extintos.
Um artigo publicado na última quinta-feira (23/10) na revista Current Biology revelou os resultados obtidos a partir de testes genéticos realizados nos crânios de dois índios botocudos, que viveram por volta de 1800. Os pesquisadores não encontraram no DNA nenhum traço de ancestralidade de americanos nativos, mas sim de grupos originários da Polinésia.

"As populações humanas primitivas exploraram extensivamente o planeta", disse a autora Anna-Sapfo Malaspinas ao site EurekAlert. "As versões de apostila dos eventos da colonização humana – o povoamento das Américas, por exemplo – precisam ser reavaliadas utilizando dados genômicos", afirmou. A pesquisadora também colaborou com outro artigo publicado na mesma edição do periódico que oferece uma explicação embasada na genética e na arqueologia ao mistério dos genes polinésios dos botocudos do Brasil.

Botocudos descenderiam dos rapanui da Ilha de Páscoa, povo que construiu os moais (Foto: anoldent/flickr/creative commons)
BOTOCUDOS DESCENDERIAM DOS RAPANUI DA ILHA DE PÁSCOA, POVO QUE CONSTRUIU OS MOAIS

O estudo analisou o DNA de 27 indivíduos do povo nativo da Ilha de Páscoa, os rapanui. As descobertas mostraram que o material genético desta população é 76% polinésio, 8% americano nativo e 16% europeu. Por meio de padrões de mistura de genes, notou-se que entre os anos 1300 e 1500 houve um contato intenso entre os rapanui e os habitantes da América do Sul, há cerca de 19 a 23 gerações. A mistura com os europeus só foi ocorrer séculos mais tarde, por volta de 1850.

Os cientistas acreditam que quem empreendia as viagens de barco eram as pessoas da ilha, pois para eles era garantido que rumando para o leste chegariam ao continente; a missão era muito mais difícil para os americanos, que teriam de encontrar uma porção de terra relativamente pequena no meio do oceano. O trajeto de cerca de 3000 quilômetros poderia levar de duas semanas a dois meses para ser percorrido.

A Ilha de Páscoa está localizada na extremidade leste do triângulo polinésio, formado também pelas ilhas da Nova Zelândia e do Havaí. Evidências arqueológicas indicam que o povoamento do território ocorreu por volta de 1200, quando de 30 a 100 indivíduos da Polinésia chegaram ali em canoas, entre eles homens, mulheres e crianças. Vivendo em uma das localidades mais isoladas do planeta a ser habitada por seres humanos, esta população construiu nos séculos seguintes cerca de 900 moais, as famosas estátuas de pedra, com algumas chegando a pesar 82 toneladas.

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