16/12/2014

Barões da carne se tornam bilionários com ajuda do BNDES.

Logo da JBS
Quando tentou comprar a National Beef Packing Co. e a Smithfield Beef Group Inc., ambas com sede nos EUA, em 2008, a produtora brasileira de carne bovina JBS SA foi recebida por uma onda opositora.

Procuradores-gerais de 13 estados americanos entraram com ações contra a empresa, que tem sede em São Paulo, alegando que a aquisição da National Beef, quarta maior embaladora dos EUA, ameaçaria a precificação competitiva ao criar um oligopólio liderado pela JBS, pela Tyson Foods Inc. e pela Cargill Inc.

Em campanha, Hillary Clinton disse ao Rapid City Journal, de Dakota do Sul, que seria contrária à compra da Smithfield e que iria "combater a consolidação".

A família Batista, que controla a JBS, não desanimou. Desistiu da aquisição da National Beef, concluiu a compra da Smithfield e transformou a JBS em um império alimentar global -- tudo com a ajuda de um banco estatal.

Com uma receita de R$ 110 bilhões (US$ 45 bilhões) nos últimos 12 meses, a JBS ofuscou a Vale SA neste ano e se tornou a maior empresa do Brasil depois da Petrobras. E também transformou cinco dos seis filhos do fundador da JBS, José Batista Sobrinho, em bilionários em dólares.

"Eles administram um negócio apertado", disse Revisson Bonfim, chefe de análise de mercados emergentes da Sterne Agee Leach em Nova York. "Eles entram onde há muitos desperdícios e sabem como remover o desperdício. As aquisições sempre estiveram no DNA deles, mas foi depois que eles mudaram para os EUA que a coisa decolou".

Após realizar mais de US$ 17 bilhões em aquisições, a JBS agora tem operações em cinco continentes e em 21 estados brasileiros. Os Batista, que não têm parentesco com o outrora bilionário brasileiro das commodities Eike Batista, estão sendo impulsionados pela maior recuperação das ações do índice da Bovespa neste ano.

A JBS deu um salto de 53 por cento nos últimos seis meses, empurrada pelo incremento dos preços da carne bovina e pelo fato de a Rússia ter cancelado a proibição para as fábricas de processamento de carne do Brasil.

Bilionários ocultos

Os cinco irmãos Batista - Joesley, Wesley, Valere, Vanessa e Vivianne Batista - têm uma participação equivalente na J&F Investimentos SA, a empresa holding por meio da qual eles e outros membros da família controlam a JBS e também investimentos em bancos, celulose, gado, produtos de limpeza e construção. Nenhum deles jamais apareceu individualmente em um ranking internacional de riqueza.

Um porta-voz da JBS disse que os irmãos preferiam não comentar essa reportagem e respondeu a outras perguntas sobre a empresa em um e-mail.

Um sexto irmão, José Batista Júnior, vendeu sua parte no negócio e se comprometeu a investir R$ 100 milhões para concorrer ao cargo de governador de Goiás, mas depois deixou a disputa para abrir caminho para um companheiro membro do PMDB.
O pai, José Batista Sobrinho, iniciou o império familiar do setor alimentício nos anos 1950, quando o presidente Juscelino Kubitschek implementou o plano "cinquenta anos em cinco" para acelerar a construção de Brasília, a nova capital do Brasil. Batista, que começou abatendo cinco cabeças de gado por dia, ajudava a fornecer carne para os trabalhadores que construíam a cidade.

Aquisições

O BNDES aprovou R$ 287 milhões em empréstimos para a empresa de José Batista Sobrinho antes de a companhia comprar as operações da Swift Co. na Argentina, em 2005.

Quando a JBS vendeu ações em uma oferta pública, em 2007, o braço de investimentos do banco aprovou uma participação de R$ 1,1 bilhão para ajudar a adquirir a Swift, na época a terceira maior empresa de carne bovina e suína dos EUA. De propriedade do Tesouro brasileiro, o BNDES anunciava a criação de uma "multinacional brasileira".

Mais aquisições vieram na sequência, entre elas a da Pilgrim's Pride, com sede em Pittsburgh, EUA, a da canadense XL Foods e a de quatro processadoras de carne brasileiras. A JBS adquiriu a empresa de lácteos Vigor em 2009 como parte da aquisição do Grupo Bertin SA.

O banco converteu R$ 3,5 bilhões de títulos locais da JBS em ações em 2011. O BNDES aprovou R$ 6 bilhões em ações e R$ 2,4 bilhões em empréstimos em uma década.

"O setor de carne bovina estava desorganizado, dividido, informal", disse um porta-voz do BNDES em um e-mail. O ambiente "não permitia que o Brasil tirasse vantagem das vantagens competitivas do setor, um relevante criador de empregos".

Batista, 81, transformou seus filhos em membros do conselho da empresa em 2005. Os irmãos Joesley, 42, e Wesley, 44, ampliaram sua importância dentro da empresa ao longo da expansão, até assumirem o comando, que estava nas mãos do pai, como presidente do conselho e presidente executivo da JBS, respectivamente.

Rich Vesta, que chefiou as operações da JBS nos EUA até 2010, disse que o apoio do BNDES não deveria diminuir o trabalho dos irmãos na empresa.

Desordens mentais

Os irmãos Batista são especialistas em introduzir eficiências em matadouros recentemente adquiridos, que dependem de trabalho manual, disse Vesta. Os trabalhadores aumentam as margens de lucro sendo os mais rápidos para separar as carcaças penduradas em cortes comercializáveis.

A JBS tem mais de 200.000 trabalhadores e capacidade para abater 100.000 vacas, 72.000 porcos e 13 milhões de aves por dia. A rotina nos frigoríficos pode ter um preço para os funcionários.
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Família batista: (da esq. para a dir.) os irmãos Joesley, Junior e Wesley começaram a trabalhar jovens no frigorífico
de seu pai, José Batista Sobrinho (à dir. na segundo foto). Mas não começaram de baixo. Foram direto
para a linha de frente administrar os negócios

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