25/02/2015

Malária no RJ.


Considerado livre da malária há quatro décadas, o estado do Rio volta a registrar a doença. Não são casos trazidos da Amazônia, mas originados no próprio estado. Por uma forma única do Rio e diferente das demais. Um surto de malária acontece na Região Serrana, com 14 casos confirmados pela Fiocruz no réveillon. Espera-se mais no carnaval e neste verão. O padrão da doença é completamente diferente do registrado na Amazônia, área onde a malária é endêmica. Dos 12 homens, uma mulher e uma criança infectados, apenas um é morador da Região Serrana. Os demais são turistas de alto poder aquisitivo, moradores da Zona Sul do Rio de Janeiro.


Os casos foram identificados pelo Centro de Diagnóstico e Treinamento da Malária da Fiocruz, liderado pelo imunologista Cláudio Tadeu Daniel Ribeiro, um dos maiores especialistas do mundo na doença. O trabalho faz parte da pesquisa de Anielle Pina-Costa, doutora em pesquisa clínica em doenças infecciosas pela Fiocruz, e do Ambulatório de Doenças Febris Agudas do Instituto Nacional de Infectologia do Hospital Evandro Chagas, também da Fiocruz, e centro de referência para malária. O genoma do parasita plasmódio causador da doença foi sequenciado pelo grupo do geneticista Mariano Zalis, do Laboratório de Infectologia e Parasitologia Molecular do Hospital Universitário Clementino Fraga da UFRJ e também pioneiro no estudo genético da malária no Brasil.

Os especialistas destacam que não é caso para pânico, ou de deixar de frequentar áreas de floresta dessas regiões, mas de se redobrar a atenção com os sintomas sugestivos da doença e a busca de tratamento adequado. A malária que afeta a região de Mata Atlântica não é letal. Mas pode causar episódios recorrentes de febre, calafrios, dores de cabeça e no corpo e prostração se não for tratada com os remédios adequados. O uso de repelente de longa duração — Exposis, com o princípio ativo icaridina, fabricado pelo laboratório Osler, é o único que funciona com longa duração — é essencial. Há casos em localidades de Petrópolis, Friburgo, Lumiar, Sana e Guapimirim.

— Aqui não é a Amazônia, onde se espera encontrar malária. O trabalho de identificação é mais lento do que o normal porque os médicos não pensam em malária, quando atendem as pessoas com sintoma — explica Claudio Ribeiro.

Por falta de desconhecimento dos médicos do município do Rio, desacostumados com malária, entre o aparecimento dos sintomas — o que acostuma acontecer em torno de 10 dias após a infecção — até o diagnóstico pode levar mais de 40 dias. Não se trata de falta de atendimento — a maioria dos pacientes foi atendida em clínicas particulares conceituadas. Mas só quando procuraram a Fiocruz receberam diagnóstico adequado.

Anielle estuda malária no estado do Rio desde 2008, dentro do projeto "Malária da Mata Atlântica". Daquele ano a 2014 foram 15 casos. No início de 2015, apareceram 14 casos. Ela e Claudio Ribeiro atribuem o fato a condições climáticas (verão seco e quente que favoreceu a proligeração do mosquito Anopheles kertezia cruzii, que usa o "copo" das bomélias nativas da Mata Atlântica como criadouro. Ele pica o macaco e e este eventualmente pica o homem.

TUDO INDICA QUE SE TRATA DE UM FENÔMENO AMBIENTAL

— A malária sempre pode ter estado ali. Porém, o calor extremo, que favorece a proliferação do mosquito transmissor, a seca, que impede que as chuvas levem as larvas das bromélias. E a busca dos turistas por lugares mais frescos parecem ter sido a combinação para o surto. Ao que tudo indica, a maioria das vítimas foi picada ao tomar banhos de cachoeira no meio da mata — diz Anielle.

Nenhuma das vítimas corre risco de morte. Todas estão bem.

— Mas o aparecimento da malária nas florestas serranas é mais um alerta ambiental. As pessoas estão cada vez mais dentro da mata. Alerta que tivemos no caso da dengue, por exemplo, e não foi devidamente combatido e vemos no que deu. A solução passa por uma maior compreensão e monitoração da floresta. Vivemos junto à florestas. Amamos estar lá. Precisamos compreendê-la melhor, Já o Brasil tem feito um trabalho muito bom na redução de casos na Amazônia, que já foram um milhão e hoje são 150 mil — observa Claudio Ribeiro.


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