Centenas de cidades do Brasil realizaram neste domingo (13) o quinto grande ato contra o governo Dilma Rousseff desde que a presidente tomou posse, em janeiro de 2015.
Foi o maior deles, pelo menos em São Paulo, segundo o Datafolha. Contagem parcial divulgada à tarde registrou cerca de 450 mil pessoas na avenida Paulista por volta de 16 horas. Segundo o instituto, é a maior manifestação realizada na cidade, superando até o movimento das Diretas Já em 1984.
Algumas coisas se repetiram, como as camisas da seleção brasileira de futebol, os selfies com policiais militares, os bonecos representando Lula como presidiário e Dilma com cara satânica, além do apoio ao juiz Sérgio Moro, da Operação Lava Jato. O contexto em relação aos atos anteriores, porém, é muito diferente. A saber:
Lava Jato perto do poder e o pedido do Ministério Público para prender Lula#
O protesto ocorreu dias depois de a Operação Lava Jato anunciar que Lula era investigado no escândalo da Petrobras e obrigá-lo a depor para esclarecer suas relações com empreiteiras. Além disso, depoimentos de delação premiada do senador petista Delcídio do Amaral ainda não homologados pela Justiça foram tornados públicos, com acusações diretas a Dilma e Lula. Houve ainda o pedido de prisão preventiva de Lula feito pelo Ministério Público paulista que, apesar de criticado até pela oposição, animou setores antipetistas mais radicais.
“Importante que as autoridades eleitas e os partidos ouçam a voz das ruas e igualmente se comprometam com o combate à corrupção, reforçando nossas instituições e cortando, sem exceção, na própria carne”
Sérgio Moro
juiz da Operação Lava Jato, em nota divulgada à tarde. Ele foi exaltado como herói nas manifestações e se disse ‘tocado’
Envolvimento claro dos partidos de oposição e seus líderes#
Apesar de também ter integrantes citados na Lava Jato, o PSDB decidiu agir claramente nestas manifestações. Não só convocou militantes como teve, de forma inédita, seu presidente nacional, o senador Aécio Neves, participando dos atos. Primeiro, em Belo Horizonte. Depois Aécio foi para São Paulo, onde se colocou ao lado do governador Geraldo Alckmin (outro tucano que almeja a Presidência da República) num pronunciamento feito na sede da administração estadual. A dupla então se dirigiu para o protesto da avenida Paulista, onde não foi bem recebida. “Você sabe que também é ladrão”, disse um manifestante ao ser cumprimentado por Aécio, segundo relato do jornal “Folha de S.Paulo”.
“O Brasil vive uma crise sem precedentes. Cabe ao Congresso dar rumo para o país avançar”
Geraldo Alckmin
Governador de São Paulo em pronunciamento no Palácio dos Bandeirantes, antes de ir à Paulista, ao lado de Aécio Neves
Entidades empresariais e de classe também fizeram convocação
Além da Fiesp (Federação das Indústrias de São Paulo), que já vinha apoiando os atos anti-Dilma, outros setores aderiram à convocação, como a associação comercial e o sindicato que representa empresas do setor imobiliário. A rede de alimentação Habib’s chegou a lançar materiais publicitários com os dizeres “Fome de Mudança”, chamando os clientes a participar dos protestos. Entidades de classe, como a Associação Médica Brasileira, publicaram anúncios em jornais criticando duramente o governo e convidando “pacientes e amigos” para ir às ruas.
País não reage à crise e recessão se aprofunda#
A crise política que se desenrola desde o início do segundo mandato de Dilma acaba por influenciar a economia, que já está deteriorada. O país está em recessão técnica desde a primeira metade de 2014, os indicadores pioram (o desemprego deve chegar a 11,5%) e o governo não consegue reagir. Medidas do ajuste fiscal ainda patinam, assim como mudanças estruturais, como a Reforma da Previdência. Dessa forma, a pressão sobre Dilma aumenta proporcionalmente ao tempo de duração da crise.
O contexto também é outro para os petistas e seus aliados
Há uma característica diferente nestes protestos de 13 de março de 2016 também no que se refere aos petistas e seus aliados. Muito em razão das últimas iniciativas da Operação Lava Jato, que investiga o esquema de corrupção na Petrobras, e do Ministério Público paulista.
A Lava Jato, a partir de determinação do juiz Sérgio Moro, obrigou Lula a depor. A medida foi criticada por especialistas do Direito. Em seguida, o ex-presidente fez um pronunciamento direcionado a militantes no qual afirmou que não iria baixar a cabeça para a operação. Se disse atacado pessoalmente e prometeu correr o país, numa espécie de preparação para uma eventual candidatura à Presidência em 2018.
O pedido de prisão formulado pelo Ministério Público paulista (numa investigação paralela à Lava Jato), em razão das ligações de Lula com um tríplex em Guarujá, reforçou o discurso do PT de que o ex-presidente é vítima de perseguição. O pedido de prisão se sustentava no argumento de que Lula seria um perigo à “ordem pública” em razão de sua reação política à Lava Jato.
A militância se mobilizou e tem realizado atos de apoio ao ex-presidente. Neste domingo de manifestações anti-PT, um grupo se reuniu em frente ao prédio onde Lula mora em São Bernardo do Campo. O ex-presidente desceu para confraternizar com os apoiadores.
Na próxima sexta-feira (18), movimentos sociais e sindicatos realizarão manifestações nacionais em apoio ao ex-presidente e contra aquilo que chamam de golpe contra o atual governo.
Segundo petistas e apoiadores, a baixa popularidade de Dilma (12% de ótimo ou bom segundo o último Datafolha) não é motivo para remover um governo eleito de forma democrática.
Adesão aos protestos anti-Dilma
MARÇO DE 2016
- público em São Paulo: 450 mil, segundo o Datafolha
- bandeiras: saída de Dilma, apoio à Lava Jato e prisão de Lula
DEZEMBRO DE 2015
- público em São Paulo: 40 mil, segundo o Datafolha
- bandeiras: aprovação do pedido de impeachment
AGOSTO DE 2015
- público em São Paulo: 135 mil, segundo o Datafolha
- bandeiras: saída de Dilma, críticas a Lula e ao PT
ABRIL DE 2015
- público em São Paulo: 100 mil, segundo o Datafolha
- bandeiras: “Fora Dilma” e fim da corrupção
MARÇO DE 2015
- público em São Paulo: 210 mil, segundo o Datafolha
- bandeiras: coro antipetista e fim da corrupção
- Fonte :.Nexojornal
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