09/03/2016

Procedimento inédito...

Um procedimento inédito no Estado mantém viva a esperança da família de uma mulher de 30 anos que teve um infarto em Blumenau há duas semanas enquanto trabalhava.
A paciente, internada na Unidade de Terapia Intensiva Coronariana do Hospital Santa Isabel, é a primeira de Santa Catarina a receber um coração artificial. Uma equipe de cirurgia cardíaca implantou na blumenauense um dispositivo mecânico de assistência circulatória biventricular paracorpóreo.
O aparelho, que trabalha fora do corpo da mulher, garante que o coração continue funcionando enquanto ela aguarda por um transplante. Segundo o cirurgião cardíaco Everton Luz Varella, que em parceria com o colega Frederico José Di Giovanni é responsável pelo procedimento, a máquina faz a circulação do sangue pelo corpo, mesmo que não haja pulsação ou batimentos cardíacos, através de dois consoles: um para o ventrículo esquerdo e outro para o direito. Varella explica que o sangue do coração é sugado para fora do corpo e através de quatro cânulas ligadas ao órgão é irrigado para a artéria aorta e a artéria pulmonar, estabelecendo um bombeamento para todo o organismo.
De acordo com o médico, o coração artificial é usado em países como Estados Unidos, Inglaterra, França e Alemanha, mas pouco comum no Brasil. O aparelho custa entre R$ 90 mil e R$ 200 mil e foi custeado pelo plano de saúde da paciente, mas a equipe médica do hospital pretende, junto à Secretaria de Saúde do Estado, universalizar a tecnologia também para o Sistema Único de Saúde (SUS). No país o recurso está disponível no mercado há pouco tempo, e o uso é pouco frequente justamente porque é muito caro e não há financiamento público.
O especialista conta que a mulher deu entrada há duas semanas no pronto-socorro com um quadro de insuficiência cardíaca. Num primeiro momento os médicos fizeram o tratamento convencional para o caso, com tentativa de abertura da artéria, mas não foi possível resolver o problema. Como o infarto foi brutal, segundo Varella, ao longo da semana a paciente começou a ter falência do coração — quando o órgão não tem mais forças para bombear o sangue —, o que gerou um quadro de insuficiência dos rins, fígado e a aproximou de um estado de pré-óbito.
A cirurgia foi acionada e, como último recurso para salvá-la, Varella e Di Giovanni decidiram que o coração artificial seria a melhor saída. A máquina norte-americana foi trazida de São Paulo e a cirurgia realizada dia 26 de fevereiro. Foram oito horas de trabalho.
— Surpreendentemente ela está tendo uma evolução um pouco acima do esperado. O aparelho foi fundamental para a melhora, pois ela se encontrava num choque circulatório devido à falência do bombeamento do coração. A ideia agora é melhorar o estado geral da paciente com o coração artificial e então realizar o transplante cardíaco definitivo. Ela já está na lista de prioridade para transplante — frisa o médico.
Paciente está em situação estável
Até sexta-feira a mulher apresentava um quadro estável, apesar de estar sedada. Ela pode ficar de 30 a 60 dias conectada ao equipamento, enquanto aguarda um coração compatível. Conforme explica Varella, que tem 30 anos de profissão e pela primeira vez implantou um coração artificial, se o transplante for bem-sucedido a paciente tem todas as chances de levar uma vida praticamente normal.
— A dificuldade é que, ao contrário do rim e do fígado, depois de retirado do doador o coração tem que ser transplantado no receptor no prazo médio de quatro a cinco horas. A logística é distinta dos demais órgãos, necessitando de transporte aéreo. Se for preciso vamos buscar o coração de helicóptero ou avião — sublinha.
Conforme adianta o especialista, outros procedimentos do tipo serão realizados conforme a demanda. Ele diz que o próximo passo rumo aos avanços tecnológicos no setor de cirurgia cardíaca no Estado é o implante de corações artificiais definitivos. O recurso será destinado para pacientes idosos que não teriam bons resultados com um transplante convencional e que ainda têm vida ativa. Para o médico, aplicar novas tecnologias na medicina é a chance de transformar Santa Catarina em um nicho de excelência para pacientes com insuficiência cardíaca.
— Viemos ao mundo para servir as pessoas, então precisamos sempre tentar. Neste caso em especial eu digo que quando a gente pensa que não há nada a ser feito, descobrimos que sempre há. Fazemos certas coisas simplesmente porque as pessoas não estão por perto para dizer que é impossível. Você vai e faz — finaliza Varella.
Fonte: horadesantacatarina

Nenhum comentário:

Postar um comentário