28/05/2014

"O iPhone e o Galaxy S não valem US$ 600", diz presidente mundial da Motorola.


A história recente da Motorola mostra como o setor de tecnologia costuma ser cruel com empresas que se acomodam na posição de liderança. A Motorola foi a companhia que inventou o mercado de celulares. Reinou tranquilamente ao longo da década de 90 e início dos anos 2000. Acabou superada pela Nokia, que tinha um produto mais competitivo e fácil de usar. A Nokia experimentou um veneno similar e foi atropelada por Apple e Samsung. Ainda gigante, a Motorola seguiu agonizando até 2010, quando foi comprada pelo Google, interessado em suas patentes. A aquisição ajudou o Google a desenvolver um sistema Android melhor e, ao mesmo tempo, reposicionou a Motorola como uma promissora fabricante de smartphones. No início do ano, porém, veio a notícia surpreendente. O Google anunciou a venda da Motorola para a chinesa Lenovo, maior fabricante de PCs do mundo. A transação foi avaliada em 3 bilhões de dólares, um quarto do que fora pago pelo controle da Motorola três anos antes.

Depois de pelo menos uma década de idas e vindas, a Motorola parece voltar a trilhar uma trajetória de ascensão. Segundo dados da empresa de pesquisas Gfk e repassados pela Motorola, a fabricante ocupa o segundo lugar na venda de smartphones no Brasil, atrás somente da Samsung. Segundo a empresa, o Moto G, smartphone lançado por aqui no ano passado, é hoje o aparelho mais vendido da categoria no país. No comando desta nova fase da companhia está o americano Rick Osterloh, que assumiu a presidência mundial da Motorola no início do último mês de abril. Osterloh veio ao Brasil esta semana para fazer uma anúncio global. Serão dois novos celulares: uma versão do Moto G, lançado no ano passado, que será compatível com 4G. E um smartphone de baixo custo, o Moto E, que terá preço de 529 reais e versão com TV digital integrada. Em entrevista a ÉPOCA, Osterloh falou sobre os lançamentos, sobre a importância do Brasil para a Motorola e sobre o futuro do mercado de smartphones.

ÉPOCA – Como está o processo de transição para o controle da Lenovo?
Osterloh – Por enquanto ainda fazemos parte do Google. A aquisição está em análise pelas autoridades competentes e estamos esperando tudo isso acontecer para concluir a migração. Deveremos estar com tudo concluído até o final deste ano. É o nosso objetivo. Temos feito alguns avanços já, mas, por enquanto, estamos separados da Lenovo. 

ÉPOCA – Depois da aquisição da Nokia, a Microsoft optou por "matar" a marca finlandesa e transformar a empresa em Microsoft Mobile. A Lenovo repetirá essa estratégia com a marca Motorola?
Osterloh – A nossa intenção é que a marca Motorola continue a ser usada. A Lenovo enxerga valor na marca Motorola. Somos a empresa que inventou o negócio de aparelhos celulares. Achamos que isso é uma característica forte o suficiente para nos mantermos como uma marca separada.

ÉPOCA – A quais fatores o senhor atribui o crescimento recente da Motorola no Brasil? Existe uma estratégia específica para o mercado local?
Osterloh – Por muitos anos o Brasil tem sido um dos nossos principais mercados. O fato de a gente fazer um anuncio global no Brasil diz muito sobre a importância que o país tem para os negócios da Motorola. Os aparelhos que estão sendo lançados hoje são fruto de uma estratégia que vem desde a aquisição do Google. Começamos essa jornada nove meses atrás, quando lançamos o Moto X, nosso primeiro produto totalmente criado dentro do Google. Depois veio o Moto G, que é um smartphone com preço mais acessível e que se tornou o mais vendido no Brasil. Acho que conseguimos encontrar o melhor balanço entre desempenho e preço e foi o que nos ajudou a relançar a empresa globalmente.

ÉPOCA – Em que países a Motorola está presente hoje?
Osterloh – Logo depois da aquisição do Google, decidimos reduzir nossa atuação global. Passamos a atuar somente em 10 países, incluindo o Brasil. Agora, estamos começando a expansão para 40 países. Queremos repetir o desempenho que tivemos no Brasil e em alguns lugares da Europa. Na Inglaterra temos 6% de participação do mercado de celulares. Há um ano, tínhamos zero. Do ultimo trimestre de 2013 para o primeiro trimestre de 2014, tivemos globalmente um crescimento na venda de smartphones de 61%. Nossa estratégia de reinventar a empresa com poucos e bons aparelhos em países estratégicos deu certo. O desafio agora é repetir isso em outros mercados.

ÉPOCA – O que vocês estão lançando no Brasil hoje?
Osterloh – São dois modelos de aparelhos que terão como principal foco a relação custo-benefício. Um smartphone custa em média no mundo US$ 347. É muito dinheiro. Queremos conquistar um público que ainda usa celulares comuns, que respondem por 70% da base mundial de aparelhos. O Moto G custa um terço do preço de um iPhone ou de um Galaxy S4 e agora estamos lançando uma versão com 4G LTE. O segundo anuncio é um novo produto, o Moto E, que também está dentro da estratégia de conquistar aqueles usuários que ainda têm um celular comum. O aparelho tem tela de 4,3 polegadas e resolução HD. Terá espaços para dois chips e mais de 20 capinhas diferentes para a traseira. O versão do Android também será a Kit Kat e garantimos a atualização por pelo menos 18 meses. Vamos lançar o Moto E por R$ 529.

ÉPOCA – O senhor disse numa entrevista recente que a era dos smartphones de U$ 600 estava no fim. Quando o senhor acha que os preços dos aparelhos mais sofisticados irão cair?
Osterloh – Eu acho que sempre haverá gente topando pagar mais por celulares mais sofisticados. Dito isso, eu não acho que seja justo smartphones como o iPhone e o Galaxy S custarem mais do que U$ 600. Eles não valem isso. O principal desafio da Motorola é mostrar essa questão na prática. Lançar aparelhos tão sofisticados quanto e com preços mais acessíveis.

ÉPOCA – Além do fator preço, qual é o grande desafio para ter sucesso num mercado de celulares. Qual a estratégia da Motorola para voltar a ser a potência do início dos anos 2000?
Osterloh – Além do preço do aparelho, é preciso tornar toda a experiência de usar o celular mais barata. Quando colocamos slots para dois chips de operadoras, conseguimos tornar as ligações mais baratas, por exemplo. O design também é importante. Todos têm a mesma linha de design, permitem trocar a cor da capinha traseira. Por fim, outro ponto critico é a questão do software. Nossa maior preocupação hoje é oferecer as atualizações do sistema Android o mais rápido possível para os nossos telefones.

ÉPOCA – Muitos fabricantes têm uma estratégia de desenvolver uma nova camada de software sobre o Android. A própria Motorola tinha o polêmico Motoblur. Com o Google, a empresa abandonou essa estratégia, optando por usar o Android puro. Permanecerá assim com a Lenovo?
Osterloh – Achamos que as camadas de software são terríveis para os usuários de smartphone. Removemos o Motoblur e passamos a respeitar a experiência original do Android. Nossa estratégia de software é justamente "abraçar" o Android puro de modo a conseguir fazer as atualizações dos aparelhos de forma mais rápida do que nossos concorrentes. Hoje, 80% de nossos usuários de Moto X e do Moto G têm a versão mais recente do Android, a Kit Kat. A participação do Kit Kat na base geral de smartphones com Android é de apenas 10%.

ÉPOCA – Como a Motorola está se preparando para o futuro do mercado de dispositivos conectados?
Osterloh – Estamos estreando nesse mercado com um relógio inteligente, o Moto 360. Ainda é uma categoria recente e muitos relógios que existem no mercado são horríveis e difíceis de usar. O nosso desafio com o Moto 360 foi fazer um aparelho que realmente pareça um relógio moderno. Ele é só o começo de um mercado que ainda vamos explorar muito.


MOTO E: O smartphone custará R$ 529

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