27/08/2014

Tango moderno x tango eletrônico.



Eles se preparam para entrar no palco – colocam seus elegantes ternos pretos com listras brancas e lenço no bolso, e os chapéus característicos. Mas tem algo de diferente no tango que tocam. Parece com o tradicional, mas há elementos eletrônicos.
 
O violino, o piano e o bandoneón continuam. Mas agora, um daqueles painéis de som como o dos DJs também faz parte da orquestra. Numa combinação inovadora de tons, o grupo parisiense Gotan Project é um dos que inovam o tango e conferem a ele outras feições.
 
"O tango já estava associado a algo antigo, que fazia parte das tradições da música argentina. O Gotan e também outros grupos deram uma repaginada nele", comenta Mauro Ferreira, crítico de música do blog Notas Musicais.
 
Formado em 1999, o grupo conta com os integrantes: Philippe Cohen Solal, francês; Eduardo Makaroff, argentino; e Christoph H. Müller, suíço. A proposta deles é tocar o "novo tango", hoje também conhecido como eletrotango ou tango eletrônico.
 
A novidade vem logo no nome: Gotan – as sílabas de "Tango" invertidas, seguindo um costume argentino de pronunciar as palavras "al revés", de trás para frente.
 
"As principais características do grupo são a utilização de sintetizadores, bateria e trabalhos de laboratório, além do uso do hibridismo musical", afirma Valentin Cruz, argentino radicado em Porto Alegre e idealizador do Festival Internacional de Tango.

Desde seu surgimento, o tango sofreu muitas modificações, originando diversos estilos. "O tango moderno tem origem na figura de Astor Piazzolla", afirma Cruz. No fim dos anos 60 e início dos 70, ouve-se pela primeira vez a referência ao "tango nuevo".
 
"Piazzolla tinha uma ideia da música enquanto fenômeno musical e trouxe ao tango tradicional influências da música clássica e do jazz americano. Foi o primeiro a incorporar a guitarra elétrica, abrindo caminhos às próximas gerações", diz Cruz.
 
O tango eletrônico surgiu na década de 1990. Além dos instrumentos tradicionais, os artistas passaram a utilizar computadores para remixar os sons. E, então, surgiram grupos como o Gotan – Bajofondo, Otros Aires, NarcoTango e Tangueto, entre outros.
 
"A proposta de misturar elementos eletrônicos para inovar o tango sem romper com seu cordão umbilical e, a estes elementos, juntar outros ritmos foi o impulso para o sucesso", comenta Cecília Rodrigues, professora de dança e coreógrafa.
 
E completa: "Eles modernizaram o tradicional sem romper com suas origens". Para ela, a motivação para a inovação do tango foi querer que as pessoas fossem às pistas dançar esse ritmo pensando que era algo totalmente novo.
 
"Usando sons eletrônicos, modernos e contemporâneos, o novo tango captou a essência do gênero e a traduziu para esse momento atual do cenário pop", afirma Ferreira. "Então, com isso, renovou o público do tango e está mostrando as novas possibilidades do gênero, que estava meio confinado a uma tradição", completa o crítico.
Após Astor Piazzolla e, mais tarde, Gotan Project, outros grupos quiseram deixar o tango mais parecido com seu gosto, e surgiram diferentes propostas.
 
"O que vejo é a criação de outra vertente que não nega o tango tradicional, mas o utiliza como base, agregando influências do mundo moderno: computadores, celulares, vida cibernética", acredita Cruz.
 
E hoje o tango vai seguindo as épocas atuais, se transformando e conquistando novos públicos. Mas, por mais moderna que a música seja, quando a ouvimos, dá para perceber que naquele som ainda há o bom e velho tango.

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