18/10/2014

Diabetes: mais conforto no dia a dia.

  Bruna usa uma nova insulina que tem aplicação uma vez ao dia.  Foto: Márcio Alves

Em um país com cerca de 14 milhões de pessoas com diabetes, novos tratamentos e tecnologias surgem para melhorar a resistência dos pacientes ao uso de medicamentos e à mudança do estilo de vida para melhor controle da doença. Acaba de chegar ao Brasil a primeira insulina com 42 horas de ação que ajuda a combater a tão temida hipoglicemia (níveis de glicose no sangue muito baixos) que pode causar desmaios e até levar ao coma. Na outra ponta, a cirurgia bariátrica para diabetes tipo 2 começa a ganhar mais adeptos, mas ainda divide a opinião médica. E, recém-lançado na Europa, ainda sem data para chegar ao Brasil, uma espécie de "scanner" permite a leitura da glicose sem furar o dedo.

Considerado um problema de saúde pública mundial, o diabetes está diretamente associado ao aumento de risco de infarto, acidente vascular cerebral e já aparece como uma das principais causas de cegueira no mundo. A insulina é o hormônio produzido pelo pâncreas, responsável pelo transporte da glicose (açúcar) para o interior das células do nosso organismo, o que fornece a energia indispensável para seu funcionamento. Quando a pessoa tem diabetes tipo 1, o organismo não consegue mais produzir a substância, e o paciente precisa fazer aplicações — mais de uma — diárias de insulina para chegar ao nível adequado de glicose. A tipo 2, a mais comum, adquirida ao longo da vida, ocorre pela inexistência, insuficiência ou resistência à insulina.

Até hoje, o efeito mais longo obtido com uma aplicação de insulina era de 24 horas, o que obrigava o paciente a reaplicar sempre no mesmo horário. Agora, uma nova insulina, a degludeca, que dura até 42 horas e evita os picos glicêmicos, acaba de chegar ao Brasil, produzida pela dinamarquesa Novo Nordisk, ao preço semelhante ao de outras drogas existentes no mercado, R$ 100. Para especialistas, a nova insulina facilitará a adesão ao tratamento. Segundo o endocrinologista Freddy Eliaschewitz, diretor do Centro de Pesquisas Clinicas de São Paulo (CPClin), dois terços dos diabéticos têm a glicemia fora de controle.

— Depois do antibiótico, a insulina é o que mais salvou vidas na história da Humanidade. Com a chegada de uma insulina de maior duração, esperamos dar mais qualidade de vida aos pacientes — explica Eliaschewitz.

Com a nova insulina, o paciente ganha um tempo extra de janela entre uma aplicação e outra. Por ter ação estável, ela reduz o risco de hipoglicemia noturna em 25% nos casos de diabetes tipo 1 e 43% nos diabéticos tipo 2, segundo um estudo publicado na revista médica britânica "The Lancet". Apesar da ação de 42 horas, recomenda-se o uso uma vez ao dia.

A estudante Bruna Carvalho, 19 anos, lida com o diabetes tipo 1 há três anos e já usa a degludeca, que aplica uma vez ao dia. Ela aponta como maior ganho a redução dos episódios de hipoglicemia: em vez de uma vez por dia, isso agora acontece apenas uma vez por semana.
— Antes a variação de açúcar no meu sangue era enorme de uma refeição para outra: no almoço eu podia apresentar 215, no lanche 45. Hoje me estabilizei em 100 ao longo do dia e o bem-estar é maior. Com a insulina, exercícios e dieta, eu consigo ter o nível de quem não tem diabetes — conta. Mas Bruna frisa que disciplina é fundamental. — Só a insulina não resolve o problema, tem que ter disciplina, fazer dieta e exercícios.

Em pessoas com diabetes, o quadro de hipoglicemia, principalmente à noite, se desenvolve quando não há glicose suficiente para ser usada como combustível para as células, e muitos pacientes associam a insulinoterapia aos episódios de hipoglicemia noturna, segundo Antonio Roberto Chacra, chefe do Centro de Diabetes da Unifesp.

Os resultados do maior estudo já global sobre hipoglicemia, incluindo 27 mil pacientes, em 24 países, revelam que o índice de hipoglicemia em pacientes com diabetes tratados com insulina é subnotificado. A conclusão foi apresentada no mês passado, durante o 50º Encontro Anual da Associação Europeia para o Estudo do Diabetes, em Viena, na Áustria.

— A hipoglicemia é uma preocupação importante para os pacientes com diabetes tipo 1 e tipo 2, no entanto é evidente que muitas vezes os pacientes não reconhecem e informam estes episódios graves — disse Kamlesh Khunti, professor de cuidados de saúde primários em Diabetes & Medicina Vascular da Universidade de Leicester, na Inglaterra.

— Os médicos precisam educar melhor os pacientes com diabetes para garantir que eles compreendam plenamente o que um evento hipoglicêmico é, registrar qualquer incidência e, sobretudo, relatá-los ao seu médico — declarou Khunti.

Os pacientes foram avaliados depois da orientação sobre o que era hipoglicemia. A partir disso, o número de relatos aumentou 47% em um ano nos pacientes com diabetes tipo 1 e 20% para os portadores do tipo 2. Segundo o especialista, isso sugere significativa subnotificação de pacientes para todos os tipos de hipoglicemia, inclusive a noturna.


Bruna usa uma nova insulina que tem aplicação uma vez ao dia (a anterior era duas vezes). O grande ganho dessa insulina para ela foi a estabilização do açúcar.

 — Eu sempre tenho por perto uma bolacha para os momentos de hipoglicemia — conta o comerciante Anselmo Luis Lopes dos Santos, 57 anos, que já teve retinopatia diabética, principal causa de cegueira na idade produtiva, e faz uso diário de insulina. — A primeira coisa que me ataca é a vista. Já fiz até tratamento com laser.

Sem picada no dedo
Outra novidade é o monitor de glicose, que elimina a necessidade de uma rotina de picadas no dedo, lendo os níveis de açúcar por meio de um sensor. O paciente tem implantado sob a pele um dispositivo do tamanho de uma moeda, na parte superior do braço. E no dia a dia ele usa um leitor digital e obtém o nível de glicose em segundos. Lançado no mês passado na Europa, o Livre ainda aguarda liberação da Anvisa.

— Quando chegar ao Brasil, vai dar um "up" em matéria de inovação. É como se você usasse um scanner para ler a glicose sem precisar de picadas no dedo. Dá para usar por cima da roupa — explica o presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes, Walter Minicucci. (Colaborou Viviane Nogueira)

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